Apresentação

Uma presença que se faz múltipla

A INFINITA, que nasce 2017, chega em 2024 na sua quarta edição enquanto uma proposição expandida e uma plataforma de conexões entre agentes de pensamento. Com o desejo de apresentar os mais diversos contextos, territórios, idades, gêneros, identidades e imaginários, as quais pessoas negras e indígenas vivem e são fabulados a viver, sem se apegar aos olhares e perspectivas coloniais, e sim, avançando em caminhos múltiplos em busca por outras formas de percepção. Investigando a partir das práticas artísticas contemporâneas, sobretudo dentro do cinema, as ferramentas e os dispositivos utilizados como estratégias de reestruturação do próprio fazer audiovisual no Brasil.
A atual produção audiovisual brasileira ilustra, de múltiplas formas, como as mudanças sociais acontecidas no pensamento cultural e político dos últimos anos refletem-se consequentemente na construção de narrativas. É resultado de novas gerações de cineastas negros, indígenas, LGBTIA+, quilombolas e de comunidades tradicionais, vindos de contextos socioculturais e territoriais distintos, que apresentam diversas formas de se ver e experienciar o mundo.
Ao afirmar-se enquanto sujeitos negros e indigenas no Brasil, historicamente, afirma-se também enquanto lutas individuais e coletivas. Compreender os tantos lugares desses corpos no mundo passa também por evidenciar suas práticas de vida, suas estruturas sociais e culturais, e suas estratégias de combate frente às amarras e as armadilhas da colonialidade e do sistema racista que rege toda a nossa sociedade. Tensionando essas relações, o cinema surge então como um organismo amplificado de tempo, território e espaço, incorporando o direito à imaginação e a criação de suas próprias narrativas, este corpo é também instrumento político de transformações sociais.
Pleitear enquanto infinita significa dizer que não há categorias suficientes que deem conta ou que imponha limites para as narrativas negras e indígenas – que não são únicas, e sim, plurais em sua plenitude. Ao afirmar-se enquanto corpos racializados no Brasil, historicamente, afirma-se também enquanto lutas individuais e coletivas. Entender esses tantos lugares desses corpos no mundo passa também por evidenciar contranarrativas, percebendo nossas estruturas culturais e sociais, sem ignorar as amarras e armadilhas da colonialidade, buscando sempre por outras formas de vida para nossas vidas.
Chegamos em 2024 com o desejo infinito de transformação, ampliação, construção e de atravessar o mundo com outros formatos, outras linguagens e outras perspectivas. Não é possível mais estacionar no tempo. E assim, a até então intitulada Mostra Negritude Infinita passou a se chamar INFINITA – Festival de Cinemas Negros e Indígenas, num momento em que partilhamos do desejo de investigar não apenas as questões que atravessam os cinemas negros, mas sim, e de forma mais implicada, nas questões que envolvem os cinemas indígenas. Queremos ampliar e amplificar as narrativas, estéticas e políticas que atravessam o fazer cinema em contextos racializados e políticos no Brasil.
Há atualmente cerca de 30 eventos focadas na difusão do audiovisual negro brasileiro, entre mostras, festivais, seminários e laboratórios, espalhados pelas cinco regiões do país e em pelo menos 15 estados constituindo assim uma rede que cresce a cada dia e da qual a INFINITA também faz parte.
A INFINITA é um projeto da A CASAMATA, produtora cultural sediada em Fortaleza (CE), e nessa quarta edição conta com apoio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, através do Edital Ceará de Cinema e Vídeo – Difusão, Formação e Pesquisa, e parceria do Cinema do Dragão, Porto Iracema das Artes e Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

Clébson Francisco, idealizar do festival e coordenador geral da quarta edição